Aquarius (2016)
- Damaris Andrade
- 7 de dez. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 11 de dez. de 2021

O filme Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho, estreou em setembro de 2016 sob forte oposição. O diretor e os principais atores do longa compareceram ao Festival de Cannes com folhas de papel nas mãos que continham frases como “Brasil não é mais uma democracia” e “Um golpe aconteceu no Brasil”. A ala mais conservadora do país exigia um boicote ao filme, enquanto outra parcela além de assistir se manifestava contra o então presidente, Michel Temer, nas salas de cinema.
Após episódio amplamente divulgado, Aquarius contou ainda com a tentativa de mudança na classificação, indicada de 16 anos para 18 anos. Estabelecida pelo Ministério da Justiça com a justificativa de conter cenas impróprias para menores, a classificação voltou à idade inicial uma semana antes do lançamento do filme.
Trazendo um suspense leve, deixa o telespectador imaginando se a sequência de uma cena seria boa ou ruim. Um tema muito forte no longa é a preservação da memória, que é evidenciada pela personagem Clara (Sônia Braga), que faz o possível para manter as relações com os amigos, familiares, o seu apego ao significado das coisas e aos objetos antigos que lembram algum momento da sua vida.
Clara, que com falas muito fortes como “Quando você gosta é vintage. Quando você não gosta é velho”, transforma seu apartamento no prédio Aquarius em uma espécie de templo. Uma mulher sexagenária, jornalista, aposentada, nos é inicialmente apresentada nos anos 1980, é retratada como uma fortaleza. Havia acabado de vencer o câncer. Dividia o seu tempo em ouvir suas músicas favoritas ainda em vinil tomando uma boa taça de vinho, mergulhar nas águas da praia em frente ao seu apartamento e se confidenciar com sua empregada, passando a imagem de amizade para quem assiste.
Ao querer se adaptar ao novo, Clara se diz “uma mistura de velhinha com criança”. Uma metáfora que pode ser explicada com a sua teimosia em permanecer no prédio mesmo com as investidas e as situações constrangedoras que é submetida por causa da construtora Bonfim.
O alto teor político do filme pode passar despercebido pelo público, por relatar preconceitos e retratar o cotidiano da sociedade atual. A dificuldade de inserir um casal homossexual no âmbito familiar, as relações entre os pais com seus filhos, a mídia empresarial que se preocupa na quantidade de vendas e não na qualidade do conteúdo, além da prática de oferecer cargos públicos ou em grandes organizações para parentes.
A única coisa que não passa despercebida é a atuação de Sônia Braga. Uma atriz que preenche o cinema com as suas falas e expressões, soube dosar e intensificar sem exageros. É com certeza uma das principais atrizes brasileiras dos últimos tempos. Sua interpretação marcante fez com que a distribuidora americana do filme, Vitagraph Films, começasse a pensar em uma campanha para que Sônia seja indicada ao Oscar.
Nota-se também que o longa tenha mais uma personagem, e essa seria a trilha sonora. Mostrando a diversidade de músicas brasileiras, ambienta seu espectador trazendo-o para dentro do filme. Além de uma fotografia impecável. Aquarius se mostra necessário e fundamental para um mundo corrupto onde as relações são descartáveis.
Ficha Técnica
Aquarius (Brasil e França, 2016)
Direção: Kleber Mendonça Filho
Elenco: Sônia Braga, Humberto Carrão, Maeve Jinkings, Irandhir Santos
Duração: 145 min.
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